A exclusão silenciosa: como crianças e jovens homossexuais são afastados do esporte nas escolas

Nas escolas brasileiras, o esporte é mais do que uma atividade física. Ele é um espaço simbólico de pertencimento, status social e construção da autoestima. É onde se aprendem noções de equipe, superação e convivência. No entanto, para muitas crianças e adolescentes homossexuais, esse espaço é marcado por exclusão, constrangimento e vergonha — sentimentos que, muitas vezes, acompanham essas pessoas por toda a vida.

Desde cedo, meninos que demonstram sensibilidade, interesses diferentes ou trejeitos fora do padrão são alvos de zombarias, exclusão nos times, e olhares de julgamento. Mesmo quando gostam de praticar esportes ou têm talento, a pressão para performar uma masculinidade agressiva e competitiva os afasta do prazer do jogo. O bullying, velado ou explícito, é tolerado como se fizesse parte do “amadurecimento”. Mas o que ele realmente faz é construir um bloqueio físico e emocional.

Esse afastamento precoce da prática esportiva tem consequências profundas. Quando um jovem deixa de participar das aulas de educação física ou se retrai para evitar o constrangimento, ele também deixa de desenvolver habilidades motoras, condicionamento físico e consciência corporal. Não se trata apenas de perder o hábito esportivo, mas de ser impedido de viver o próprio corpo de forma plena, ativa e saudável.

Mais tarde, essa lacuna aparece de forma cruel: a sociedade que exclui esses jovens do esporte é a mesma que impõe um ideal estético de corpo atlético, forte e desejável — e cobra esse ideal com intensidade ainda maior dos homens gays. Surge, então, uma relação distorcida com o próprio corpo, marcada por insegurança, culpa e comparações. Muitos tentam recuperar esse tempo perdido em academias, dietas, procedimentos, mas o condicionamento físico imposto como correção de um suposto “erro de origem” nunca será suficiente para apagar as cicatrizes da exclusão escolar.

Não se trata de vitimismo. Trata-se de entender que o desenvolvimento físico saudável é também uma questão de acesso e acolhimento. Um jovem que é expulso simbolicamente da quadra também está sendo empurrado para fora de um espaço de convivência, expressão e saúde. Corrigir isso começa por rever como tratamos a diversidade nas escolas e como naturalizamos o silenciamento de quem não se encaixa.

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